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Caxias, Ma, Brazil
Sou jornalista por formação e profissão há dez anos. Correspondente do jornal O Estado do Maranhão desde 1999. Já atuei em diversos jornalísticos de Caxias, impressos e na internet.Trabalhei em assessorias de imprensa. Este ano assumi a coluna política de Caxias em O Estado. Aqui estarão impressas um outro lado dessas noticias, os bastidores que pouca gente vê. Postarei também as reportagens produzidas por mim para este jornalístico e que agora estarão disponibilizados também na internet.Leia, reflita e comente.CONTATOS: (99)8133-3525 ou aneledepaula@gmail.com

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SÃO LUIS EM FESTA : 399 ANOS, UMA SENHORA DE RESPEITO!


Por Augusto Cesar Maia


A minha cidade, desconhece idades e épocas para continuar pura na simplicidade de um convívio humano harmonioso, longe do caos metropolitano e alheia ao frenesi da aldeia global.
A minha cidade ainda não atravessou a ponte. Abatida sobre o Cais da Sagração resiste em se embrenhar pela selva de concreto que cresce do outro lado do Rio Anil.
Sua mística está no sono da serpente, musgo acessório dos seus subterrâneos; no medo vindo de Donana, que padece nas noites de sexta vergada na boleia de sua maldição; na princesa Ina, “encantada” nas profundezas do Itaqui, a naufragar cargueiros por caprichos xenófobos e na da Casa das Minas, herança daomeana protegida pelos vodus.
Nela, o verbo escorre pelos telhados do solar de Josué Montelo, semeia a terra que comeu a pele e expôs os ossos de Bandeira Tribuzi, extrai o ouro noturno de Nauro Machado e se perde na desordem urbana de José Louzeiro.
Cidade das ladeiras, rampas e vielas, da praia de Ponta D’areia, com seus tuaregues em convescote, lambuzados de farofa e monazita. Olho D’água, e os “olhos de bois” que choram para encher suas marés. Praia do Calhau, escondida por trás das dunas pela vergonha de ser virgem. Araçagy, que perdeu a pose e o traço quando Peixoto lhe tirou o “cabaço”; e do Caju, onde mestre Chocolate ficou mudo ao ver Maria Celeste se despir em chamas para mergulhar o seu rumo na baía de São Marcos.
Em Campo de Eurique, o velho Liceu Maranhense, com Luiz Peito de Pombo perfilado sobre seu umbral. Liceu que se repartia em horas para completar o dia com a Escola Normal. Liceu de Seu Merval, de Pedro Jurará, Cobra D’água e Dona Santinha, pacientes e zelosos com a inquietude dos seus moços. Liceu dos grandes mestres, todos dormindo na eternidade, protegidos pelas mármores do Gavião. Liceu Maranhense, chancela de nossa memória.
Os bares da minha cidade são templos boêmios, de portas sempre abertas para o mundo da poesia, dispostos a servir liberdade com gosto de hi-fi. Bar do Hotel Central: Erasmo Dias lavando a política com sabugo de milho e sabão de coco. Moto Bar: pernil, Pilsen casco escuro e espeto de contas, bem ao gosto do Sarafim, um português “boa praça” inventado no Almerim ou talvez em Póvoas do Varzim. Bar do Basílio: a confraria dos loucos e letrados se empanturrando com tiquira e vida alheia, para no Atenas, José Chagas bolinar sua clarineta e Carlos Cunha rabiscar com caneta, sua estrada até a Academia Maranhense de Letras, e o La Boheme, onde fui condecorado com a Ordem do Mérito Walker e me diplomei poeta com as bênçãos da viúva Cliquot.
Cidade negra como Rosalina, de boca mole, “xandanga” gostosa e português casto (aprendido com os Pereiras, portugueses que lhe adotaram), desvirginou toda molecada que lhe pousou de garanhão para depois se tornar madame e desfilar a sensualidade ludovicense nos salões da França. Cidade bailarina, dançando ao som de Nonato com Cardoso cantando Aldilá, expõe teu recato nas tertúlias do Lítero, bate coxa em espasmos e te rende ao “virilhame”, tímido orgasmo de teus adolescentes.
Cidade devassa, que se reúne no Cabaré da Maroca, onde os homens depois de embriagados praticam a liturgia da bacia, o verdadeiro batismo do macho. Saturnal, quando veste satisfação para no corso do meretrício chorar de emoção e gritar viva à loucura, tentando espantar a tristeza cantando “quebrei uma jura. O “Vira-Lata” na cadência de suas “ritintas” impõe ritmo a festa, máscaras disfarçam a vida e Vera Cruz Marques dando vida ao disfarce faz de Moises o único Rei do carnaval.
É esta a cidade que faz trezentos e noventa e nove anos. Que driblou os bondes e percorreu um longo caminho para permanecer viva em nossa memória. Cidade que contrita em fé, de joelhos na Igreja da Sé, fez promessas para não crescer além do Anil, acreditando que caberia completa na Colônia Nina Rodrigues.
Esta é a minha cidade, feita de porta-e-janela, onde debruçam os seios de meus devaneios; de meia-moradas, construções mal terminadas, vaidades partidas ao meio; de morada-inteira, com eira e beira e soberba na cristaleira, e dos casarões levianos, imponentes, mas mundanos. Cidade, és minha historia, cidade, és minha alegria, tu és feliz cidade, uma paixão que levo para a eternidade. Parabéns, São Luis!
Augusto Cesar Maia é bacharel em comunicação, poeta, compositor, mas nesta crônica apenas declarando paixão a São Luís.

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